Thursday 17 July 2008

"A minha próxima vida" de Woody Allen

Na minha próxima vida quero vivê-la de trás para a frente. Começar morto para despachar logo esse assunto. Depois acordar num lar de idosos e sentir-me melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a pensão e começar a trabalhar, receber logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos até ser novo o suficiente para gozar a reforma. Divertir-me, embebedar-me e ser de uma forma geral promíscuo, e depois estar pronto para p liceu. Em seguida a primária, fica-se criança e brinca-se. Não temos responsabilidades e ficamos um bébé até nascermos. Por fim, passamos 9 meses a flutuar num spa de luxo com aquecimento central, serviço de quartos à descrição e um quarto maior de dia para dia e depois Voila! Acaba como um orgasmo! I rest my case.

Sunday 6 July 2008

Sarajevo...FINALMENTE!!!!

Todos os que imaginam Sarajevo uma cidade cinzenta deprimida,com pessoas tristes e revoltadas...Engane-se!!! Ainda se encontram fachadas esburacadas e rosas de Sarajevo a lembrar um passado recente tortuoso, é certo, mas Sarajevo é, hoje, uma cidade cheia de vida, de cor e de esperança. Capital da Bósnia-Herzegovina é uma das cidades mais bonitas e surpreendentes dos Balcãs. Sarajevo é uma cidade única, por muitas razões. Há pouco mais de dez anos combatia-se aqui, nestas rua por onde passei, e em qualquer outra, com uma ferocidade inimaginável. Quando, por essa altura, entre 1992 e 1995, li nos jornais relatos de matanças, quando me contavam os assassinatos aqui praticados por “snipers" que abatiam nas ruas indiferentemente homens, mulheres e crianças, estava longe de pensar vir alguma vez a caminhar por estas avenidas num fim de semana solarengo. Pacificamente. Mas os bósnios são gente com uma longa tradição de convivência pacífica entre povos diversos e diferentes religiões...





















A cidade, situada num vale, viu-se, um belo dia, cercada e sitiada. Os atacantes tinham decidido cortar todos os abastecimentos de gás, electricidade e água. Por quatro anos seguidos, deixaram Sarajevo sob um dilúvio incessante de ferro e de fogo. Atiradores emboscados controlavam todos os cruzamentos visíveis a partir das colinas, e os obuses caíam vinte e quatro horas por dia, arrebatando vidas e semeando a morte, o que, com o passar do tempo, se tornou algo de quotidiano e de totalmente banal. Os bombardeamentos foram tão violentos durante os quatro anos de cerco ,Sitiada, sem luz, sem água, sem aquecimento, quase sem alimentos, mas debaixo de tiros incessantes, a cidade ficou em breve reduzida a um buraco negro, separada do mundo, entregue a si própria e constatando esporadicamente, à luz das explosões intermitentes, que ainda se encontrava viva.
Mas, no fundo desse buraco negro, a luta pela vida, ou melhor, pela sobrevivência, era tão impiedosa, encarniçada e inexorável como aquele dilúvio de ferro e fogo. Os alimentos entravam a conta-gotas pelo túnel cavado sob a pista do aeroporto, única saída para o mundo exterior...










Rosas de Sarajevo, o resultado da mistura de sangue e alcatrão a altas temperaturas. Estas "rosas" cresceram da constante luta de guerrilha aliada a uma utilização massiva de rocket's, rpg's...no momento da explosão, e consequentemente no momento em que atingia as pessoas, o sangue e o alcatrão se juntassem e vitrificassem, esta é uma característica única e inigualável desta cidade. Mas cada uma delas significa que alguém derramou sangue...










O cume das montanhas fica a meia dúzia de quilómetros do centro da cidade. Era fácil acertar no que se queria. Assim foi. Durante mais de três anos. Atiradores isolados iam matando a seu belo prazer pela cidade tudo quanto mexia no local errado à hora errada. Fala-se em milhares de crianças mortas assim, a atravessar a rua, a sair de casa. Não já um crime, uma vergonha para a Humanidade. Em finais do século XX


Numa das ruas principais, que nos leva até à cidade velha, começamos por ter junto a um jardim a Igreja Ortodoxa Sérvia, a seguir passamos pela Catedral Católica, um pouco mais adiante uma imponente Mesquita Muçulmana cujas preces se estendem por vários quarteirões, e não muito longe uma Sinagoga Judaica. E assim por diante. Para todos os credos. Nas ruas há rapazes e raparigas de cabelos soltos, louros, escuros, castanhos, foulards islâmicos, hijabs, chadors e burcas de todas as cores e todos falam entre si, sem hesitações.É bonito ver esta harmonia...














É tão fácil tentar fazer progredir a “Verdade”, a “nossa Verdade”, e anular as falsificações. Logo, viver em harmonia, em terra de diferentes Fés é difícil, mas absolutamente espantoso de surpreender. Aconteceu por estes dias em Sarajevo. Ouvir na rua as rezas dos muçulmanos que se erguem das suas mesquitas, e ver, logo ali ao lado, os católicos e os ortodoxos, os judeus e outras minorias co-habitarem civilizadamente foi uma experiência inesquecível e uma lição para todos e para o futuro. Não é difícil viver em comum, basta respeitar e ser respeitado.


Depois das diferentes independências que resultaram do desmembramento da Jugoslávia de Tito, sete estados e duas autonomias, a Sérvia e a Croácia disputaram o território da Bósnia.O pretexto para o ataque de 1992 foi o facto de haver no território bósnio uma parcela habitada quase exclusivamente por sérvios, que pretendiam que esta terra fosse anexada à nação sérvia. Os bósnios retorquiam com o argumento da região pertencer ao seu país, que os sérvios podiam lá viver livremente e pacificamente, mas que não podiam levar o território consigo para outro país. Foi quanto bastou para a Sérvia, dirigida pelo presidente Milosevic, sitiar Sarajevo durante mais de três anos. Obviamente que nada disto é tão simples como se conta. Milosevic procurava manter o máximo da unidade política da Jugoslávia de Tito, os países que se iam “libertando" do jugo sérvio estavam apoiados por americanos e europeus, que pretendiam precisamente o contrário, dividir a Jugoslávia de Tito para melhor reinar. Não causa por isso qualquer surpresa saber-se que Milosevic acabaria no Tribunal Internacional de Haia